Por que
a maioria das categorias de trabalhadores se organizam em sindicatos e
somente os pescadores artesanais em colônias? As primeiras colônias de
pescadores do Brasil foram fundadas a partir de 1919, implementadas pela
Marinha de Guerra. Dois grandes fatores contribuíram para essa
investida do Estado: primeiro, o país começou o século XX importando
peixes, apesar de possuir um vasto litoral e uma diversidade de águas
interiores; segundo e mais importante, após a Primeira Guerra Mundial
(1914-1917) aumentou o interesse do Estado na defesa do extenso litoral
brasileiro.
O termo
colônia significa agrupamento, aglomerado. Foi isto que a Marinha fez,
agrupou os pescadores em função de seus interesses. No ano de 1919 teve
início a Missão do “Cruzador José Bonifácio”, grande embarcação da
Marinha que tinha à frente o Comandante Frederico Villar, a quem foi
designada a tarefa de organizar os pescadores do Brasil. A embarcação
saiu do Rio de Janeiro com destino a Belém do Pará, por onde começaram a
ser criadas as primeiras colônias.
O
discurso instituído para fundar as colônias baseou-se na defesa
nacional, pois ninguém melhor que os pescadores conhecem os “segredos”
de rios e mares. Os conhecimentos, adquiridos e sistematizados durante
décadas, eram de interesse da Marinha. Eles detêm um mapa mental sobre a
geografia do lugar, conhecem rios, furos, canais, atalhos, lugares
rasos e fundos que eram de interesse do Estado. O lema adotado pela
Marinha para a fundação das colônias foi: “Pátria e Dever”.
O
primeiro estatuto das colônias de pescadores data de 1º de janeiro de
1923, proveniente da Marinha. As colônias eram definidas como
“agrupamento de pescadores ou agregados associativos”. Para poder pescar
os pescadores eram obrigados a se matricular nas colônias.
Em 1920
foi criada a Confederação dos Pescadores do Brasil. Até então, as
relações instituídas entre pescadores e Estado se caracterizavam pelo
paternalismo e assistencialismo. No processo de “conquista” da confiança
dos pescadores, o Estado prestou serviços gratuitos em embarcações,
doou redes, ofereceu serviços de saúde, além de ter criado algumas
escolas para os filhos dos pescadores, denominadas de Escoteiros do Mar,
com finalidade de militarização e treinamento para os jovens.
Na
década de 1930, com a instituição do Estado Novo na era Vargas, a
organização dos pescadores passou por algumas mudanças. Através do
Decreto nº 23.134/33, foi criada a Divisão de Caça e Pesca, cujo
objetivo seria gerenciar a pesca no país. Os pescadores deixaram de
estar subordinados ao Ministério da Marinha e passaram para controle do
Ministério da Agricultura. Este elaborou o primeiro Código de Pesca, em
janeiro de 1934, subordinando os pescadores à Divisão de Caça e Pesca.
Com o
advento da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), novas mudanças são
introduzidas na organização dos pescadores artesanais. Através do
Decreto-Lei nº 4.890 de outubro de 1942, foi transferida a subordinação
dos pescadores do Ministério da Agricultura para o da Marinha.
Na
década de 1960 o novo Código de Pesca foi instituído em pleno regime
militar, através do Decreto nº 221 de 28 de fevereiro de 1967,
estabelecendo normas para o exercício da atividade da pesca. A partir de
então, a organização dos pescadores retornou para a tutela do
Ministério da Agricultura, que instituiu um novo e único estatuto para
todas as colônias de pescadores, através da Portaria nº 471 de 26 de
dezembro de 1973.
No ano
de 1985, a Confederação Nacional de Pescadores convocou as Federações
Estaduais a realizar assembleias e eleger delegados para compor um grupo
que foi denominado de “Movimento Constituinte da Pesca”, cuja
finalidade foi apresentar propostas aos parlamentares, reivindicando
benefícios aos pescadores. Após a promulgação da nova Constituição, em 5
outubro de 1988, as colônias foram equiparadas em seus direitos sociais
aos sindicatos de trabalhadores rurais, pois o artigo 8º trata
exclusivamente destas questões. As colônias, então, passaram a ter
autonomia, sem a intervenção do Estado.
Sérgio Cardoso de Moraes
Sociólogo, Doutor em Educação
Diretor Geral do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA
E-mail: scmoraes@ufpa.br
Sociólogo, Doutor em Educação
Diretor Geral do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA
E-mail: scmoraes@ufpa.br
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